A depressão é uma doença psiquiátrica que não faz distinção de classe social, idade e sexo. Mas sabe-se que o pico da doença ocorre, principalmente, em indivíduos entre 18 e 45 anos e a prevalência é duas vezes maior em mulheres do que em homens.
Isso pode ser explicado, principalmente, pela flutuação de hormônios femininos. Segundo Joel Rennó Jr, diretor do Programa de Saúde Mental da Mulher do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, até pouco tempo atrás acreditava-se que essa ocorrência era devido ao fato de as mulheres serem mais preocupadas com a saúde. Mas hoje, sabe-se que não é isso.
- Alguns fatores estão associados a esse dado. Há um grupo de mulheres mais sensíveis aos níveis hormonais, elas seriam mais vulneráveis ao estresse, causado pela múltipla jornada e a sobrecarga maior sobre elas.
Com a gravidez, muitas mulheres potencializam esse estresse e acabam tendo depressão durante os nove meses ou em até um ano depois do parto – a chamada depressão pós-parto. Se levarmos em conta o fato de a mulher, ao dar à luz, enfrentar modificações na rotina, na vida conjugal e sexual, e na aparência, é possível entender essa dose extra de estresse. Em todos os casos, a ajuda médica é fundamental.
Foi o que aconteceu com a jornalista Carla Jimenez, 38 anos. Aos 30 anos ela engravidou de seu filho e após o seu nascimento, enfrentou um calvário.
- Hoje, vejo que durante a gravidez eu já apresentava uns sintomas da depressão. Eu tinha um medo e uma ansiedade exagerados. Quando ele nasceu, tudo piorou. O bebê não dormia e eu fiquei exausta. Eu sentia raiva dele por isso. Mas não admitia que ali havia um problema.
Durante anos, Carla conviveu com sentimentos ruins. Mas com o tempo e com o apoio da mãe, ela hoje está bem. “Eu me culpei muito por ter sentido aquilo pelo meu filho, que eu amo de paixão. Hoje não me culpo. Eu não me perdoo por ter sentido raiva dele. Mas consegui trabalhar isso na terapia, que parei há um ano”.
Carla faz parte das estatísticas. Segundo Rennó Jr., nas gestantes, o índice de depressão gira em torno de 10% a 20%.
- É muito significativo, não podemos ignorar. Por isso, é importante tratar. Alguns estudos mostram que depressão não tratada durante a gravidez pode ocasionar parto prematuro, aborto espontâneo e bebê com baixo peso.
Já no pós-parto, cerca de 80% das mulheres apresentam sintomas de depressão, como ansiedade, choro e irritação, que acabam desaparecendo em até duas semanas. Apenas 15% terão depressão propriamente dita.